segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Grisalhos


Hoje eu completo 40 anos de idade. Pra mim (e pra muitos também) é uma data emblemática, pois marca uma época na vida de qualquer um. Tempo de refletir, analisar, fazer um balanço da vida e ver, não somente em que pé ela está, mas, principalmente, o que vai querer fazer com “a segunda metade” do que restou dela.

Confesso que me tornei um tanto nostálgico nesses dias. Comecei a investigar um pouco o passado e, por um golpe do acaso, me lembrei de alguns planos que fiz aos meus 20 anos. Admito que isso mexeu um pouco comigo. Não se passa impune ao revirar os recônditos esquecidos das nossas lembranças. Muita coisa vem à tona, nos lembramos de onde viemos, o que planejávamos ser e com quem andávamos. Nem sei por que estou pensando nisso agora. Talvez para comparar o rapaz agitado que achava que sabia demais com o “jovem senhor”, pai de filhas, que sabe menos a cada dia. Como bem disse Will Durant, “a educação é a descoberta progressiva da nossa ignorância”. Graças a Deus, o passar dos anos não frutificou os planos que fiz. Tenho certeza de que o jovem esportista, que dizia que nunca iria se casar e que estaria rico no futuro, iria ficar fulo da vida com o crente, família e seus toques grisalhos, cada dia mais evidentes, que ele se tornou.

O legal disso tudo é que me senti orgulhoso do planejamento infrutífero. Ri sozinho da minha incapacidade de decidir meu o futuro naquela ocasião e, melhor ainda, hoje me encontro muito mais motivado a fazer planos, por mais que o tempo não jogue a meu favor.

Chego aqui cheio de falhas, eu sei. Reconheço minhas inúmeras limitações, mas minha alma se alegra mais e mais a cada dia com o potencial de evolução que ainda tenho pela frente.

A caminhada é longa, herdei algumas rugas do tempo, um ar de desconfiança teima em rondar meus pensamentos, mas meu entusiasmo é ainda maior hoje! A palavra entusiasmo (do grego en + theos, ou seja em Deus) ilustra perfeitamente o momento que vivo. E eu me recuso a renunciá-lo, mesmo que isso possa parecer que estou em crise.

Aos 40 anos, entretanto, você é bombardeado de informações de alerta (e a essa altura, talvez eu não saiba definir se esse ataque vem de fora ou se é normal se sentir assim). Pra começar, suas visitas ao médico se tornam mais frequentes, não que você esteja doente, mas como diria a nossa avó, “seguro morreu de velho”. Seus colegas de serviço mais novos passam a te chamar de senhor, você começa a ter pouca disposição para ficar até altas horas da madrugada acordado, qualquer excesso de comida deixa de ser absorvido generosamente pelo organismo e passa a habitar uma zona equatorial do seu corpo, sua paciência tem curta duração.

Por outro lado, nem tudo são espinhos. Um certo charme e elegância tomam o lugar da agitação. Você passa a conhecer lugares bacanas (até porque já viajou bastante). Provavelmente fala mais de um idioma, é bom conhecedor de vinhos e culinária. Já fez e consolidou excelentes amizades e sabe que poderá contar com elas para toda sua vida. Seus pais começam a te pedir conselhos. O envelhecimento tem lá suas compensações.

Olhando com romantismo para essa jornada, percebo o quanto Deus é justo conosco. Primeiro porque Ele nos dá toda oportunidade de acertarmos as contas aqui em vida. Além disso, nos dá também todos os elementos necessários para seguirmos o caminho.

Aprendi que a gente deve compartilhar o que é bom. Multiplicar o bem nos torna mais humanos e menos parecidos com pedras. E nessa visão de fazer o bem sem olhar a quem, se eu puder contribuir nem que seja por um instante, gostaria de registrar aqui aquilo que aprendi até hoje com esse pouco espaço de tempo nessa vida.

Leia! Acostume-se ao saber. Não há preço para a liberdade. E não há liberdade maior do que conhecer a verdade. Busque o conhecimento, mas não faça isso como quem espera o produto final. Curta o caminho, delicie-se com cada pitada de conhecimento que adquire.

Aprenda a ouvir. Acostume seu ouvido para ouvir, não para escutar. Pode parecer meio óbvio isso, mas muitas vezes não queremos dar ouvidos aos outros. Use-o para assimilar a maior quantidade possível de informações. Retenha aquilo que te exorta, edifica e consola. E que tudo o mais saia pelo outro lado.

Ande com quem te impulsiona a crescer. Mesmo sendo longa, a caminhada é rápida e cansativa demais para se gastar tempo com gente mesquinha, de coração duro, cujos deuses são seus próprios ventres. Afaste-se de quem te leva a pecar e a trair a justiça.

Seja prudente ao tomar decisões. Pense como numa jornada em que todo o lixo jogado inadvertidamente irá parar em você mesmo. Guarde o seu coração. Ele influencia seus pensamentos. Pensamentos viram palavras. Cuidado com as palavras que usa, somos regidos por um governo fundamentado nelas. A palavra lançada se transforma em ações, que por sua vez se tornam hábitos. Mude seus hábitos. A monotonia é a ferrugem da alma.

Não guarde mágoas. Essas invenções malignas de reservar um espaço precioso de nossa mente para carregarmos essas frustrações só nos envelhecem e nos tornam chatos. Aprenda a perdoar (e a pedir perdão). Transforme-se pela renovação do seu modo de pensar. Tome a iniciativa de se libertar desse peso.

Creia! Aceite ser dependente e não auto-suficiente. Reconheça seus erros. Não insista num caminho que obviamente vai te levar a um lugar de ruína. Cedo ou tarde (melhor que seja cedo) você terá que percorrer tudo de volta para recomeçar do ponto onde se distanciou da verdade. O Caminho é um só!

Semeie! Saiba que a semeadura é opcional, mas a colheita não, ela é obrigatória. Só se colhe aquilo que plantou. Tenha paciência de esperar a época certa de colher. Não fique espiando todo o tempo para ver se já é hora de colher. Tudo tem o seu tempo determinado. E não desista da colheita. A princípio, um broto não se parece com o fruto sonhado, mas como tudo o que há debaixo do sol, há um processo em andamento, em você, em seus planos e também na sua colheita. Saiba esperar.

Plante amor. É o dom mais precioso que Deus nos deu. Lembre-se de que Ele nos amou primeiro quando éramos pecadores. Essa é a verdade do amor, não se espera nada em troca. Cultive isso e amontoará para si um tesouro eterno de glória.

Ame! Não tenha medo de amar. Não passe por essa vida sem experimentar esse derramar de amor por alguém. Não resista quando ouvir aquela voz que estremece todo o seu ser. Louco é quem nunca amou. Entregue-se. Não seja frio como o metal que soa ao ser batido ou o címbalo que retine mediante um estímulo. Não espere o amanhã. Hoje é o melhor que se consegue e o amanhã está destinado ao mistério.

Se você me perguntar se eu segui tudo isso aí acima, honestamente te respondo que não. E justamente por isso, infelizmente, ainda estou colhendo muitos frutos amargos devido às escolhas que fiz lá atrás. Mas eu sigo para frente, olhando para o Alto.

Agradeço a Ele por ter me escolhido e me levantado. Por ter me feito no ventre de Dona Ana, por ter me possibilitado conhecer Natália, mulher que eu amo, por ter me dado três lindas filhas princesas, Luisa, Gabriela e Mirela, e por todos os grandes amigos que fiz.

Se você leu tudo isso é por que me valeu a pena ter acordado cedo nessa manhã. Saiba que junto a este texto há uma oração fervorosa ao Senhor para que Ele te abençoe. Que eu e você possamos cantar novas canções a cada dia, contemplando o que há de mais belo e perfeito nesse mundo: o Amor.

Um beijo carinhoso pra você.