sexta-feira, 24 de maio de 2013

O agir da espera


“Esperei com paciência no Senhor, e Ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor. Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos. E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos o verão, e temerão, e confiarão no SENHOR. ” (Sl. 40:1-3)

Onde estaria Davi quando compôs este salmo? Onde (ou o que) seria esse charco de lodo, esse lago horrível? Que situação extrema poderia ser chamada dessa forma na vida de um homem? Sempre que leio essa passagem, fico tentando encaixar a minha realidade (com suas mazelas e lutas) nesse tal lago tenebroso que o salmista ilustra.

Creio, irrefutavelmente, que Deus é poderoso para nos tirar de qualquer situação difícil. Aliás, acho que poucos duvidam disso. A questão aqui não é a capacidade de Deus agir em nosso favor, nem tampouco a natureza podre e aparentemente sem solução da circunstância que nos cerca. A chave do sucesso, que nos eleva à condição de firmar nossos pés sobre a rocha, é a nossa disposição para esperar. Não como quem não faz nada e simplesmente cruza os braços sem esboçar nenhuma atitude. Mas como quem sabe em quem confia, como quem luta por algo, como quem quer verdadeiramente alcançar sua promessa.

O dicionário Houaiss traz algumas explanações sobre o verbo esperar: ter esperança, contar com, confiar em, não agir, não tomar decisões, não desistir de algo, não ir embora...

Será que diante de uma situação de calamidade nós sabemos esperar pela providência divina? Quanto tempo estamos dispostos a, pacientemente, aguardar que Deus decida nos ajudar? Podemos garantir que não iremos tentar contornar o obstáculo com nossos próprios recursos? O que dizer da nossa lei das compensações, através da qual nos julgamos merecedores de certos prazeres momentâneos que aplaquem nossa ansiedade? Temos fé suficiente para louvarmos o nome de Jesus sem nem ao menos vislumbrar uma pequena nuvem?

A carta de Paulo aos romanos, em seu capítulo 5:3-5 diz: “... gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança, e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança; e a esperança não desaponta...”

A palavra tribulação, traduzida do grego thlipsis, é a mesma que Jesus profere em Jo. 16:33b: “No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.”

Segundo a concordância bíblica de Strong, a palavra thlipsis pode denotar, entre outras coisas: tribulação, aflição, opressão, perigo, sofrimento, agonia, problema financeiro, necessidade, apuro, dilema, perseguição.

Ora, a tribulação a que Paulo se refere pode muito bem ser vista como famoso lago horrível de Davi. Um lugar de opressão, apuro, sofrimento. Uma situação limite da qual o homem sozinho não consegue se livrar. Um lugar onde se tem apenas duas alternativas: se debater em meio ao pânico ou esperar por socorro. Sendo assim, seguindo a ordem do apóstolo, percebemos que as aflições da vida nos levam à perseverança, que por sua vez nos tornam experientes, culminando com um coração esperançoso. Esperança esta que não desaponta. Logo, é dentro do lago que aprendemos a esperar.

Se formos parar para pensar, vamos ver que o oposto da espera, isto é, tudo aquilo que nos afasta da realização de algo que se quer ou precisa, tudo que nos tira a confiança, tudo que nos rouba a expectativa, nos prende ao lamaçal da alma. O oposto da espera é o desespero. Quem não espera, se desespera. Mata a esperança, mata a confiança, desanima, perde a fé e se entrega à aflição. Quanto mais nos debatemos em desespero, mais nos afundamos na areia movediça.

Jesus já nos disse que em nossas vidas teríamos thlipsis, ou seja, nos desesperaríamos. Talvez até pensássemos que não tinha mais jeito. Que era para ser assim, pois nascemos para viver desta forma, sujos de lodo, mudos para o louvor de Deus, irrecuperáveis diante o dia mau. Mas o Mestre nos ensina que devemos encontrar bom ânimo e esperarmos Nele. Ele venceu o mundo. Ele é vitorioso. Ele é merecedor e capaz de nos içar do fundo do poço, donde só Deus é capaz de ouvir nosso clamor. Lá dentro, no escuro da tristeza, devemos continuar acreditando na promessa do Pai: “Eu é que sei que pensamentos que tenho a vosso respeito. Pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais”.

A espera pelo milagre passa pela atitude de crer. Crer é agir, é não desistir, é ter por certo algo que não se vê mesmo sob circunstância desfavorável. Como quem se atola num lamaçal de problemas, mas que não se entrega nem se debate. Antes, porém, toma a decisão de invocar a providência que vem do alto e aguardar seguro sobre a rocha da fé.

Paz