sábado, 6 de outubro de 2018

O que tenho visto


Meu louvor é silencioso, quase um sussurro escondido na solidão de minha alma, onde ninguém pode ler sequer uma lágrima ou um sorriso. Nesse profundo particular, habitam a ciência e a gratidão de conhecer Aquele que, antes da eternidade, esculpiu cada pedra, riscou cada fenda na terra, por onde a água pudesse escorrer, delineando o espaço onde, bilhões de anos depois, haveria a gênesis da matéria animal, acendeu a estrela mais próxima a distância perfeita e fez-nos girar acelerados sob mais excelente elipse, de modo que todas as partículas do campo gravitacional estivessem igualmente banhadas pela mesma luz.
Ah Criador, quem sou eu para explicá-Lo ou não sabê-Lo? Que tenho eu diante do Tudo para Te oferecer de volta como oferenda senão a certeza de que o acaso é no mínimo impotente demais para desenvolver, de forma tão harmônica, aquilo que vibra de forma tão caótica? Até mesmo o fato da minha tentativa de relativizar esta dádiva, no afã de estabelecer uma insignificante relação de causa e efeito, já me expõe infante e incapaz de simplesmente aceitar a mercê.
Questões que não concedem respostas, posto que o tempo, dual do espaço, ainda não permitiu ao lógico nem ao menos um infinitésimo de chance de vislumbrar o que é de verdade. De certa forma, porém, a conveniente duração relativa das coisas nos ensina que é antivital tentar manter-se, enquanto matéria, dissociado do outro, seja lá o que for debaixo do sol, uma vez que sem esse, partícula igual, e sem o amontoado de comunicações que todos coletam e transmitem, jamais seria possível romper a barreira da visão limitada, contrariando assim o senso comum.
Fortunados, por fim, os que se possibilitam estaticamente, ainda que no campo virtual, parar para observar a dinâmica do cosmos e aprender que mesmo com a insistente, entrópica e inexorável destinação das coisas, nos foram admitidos o prazer e a paz de alienadamente distrair a aparente certeza que temos através da visão do vivo ao redor.

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